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Análise: Death’s Door

Pegar o ônibus, passar pela lanchonete, chegar ao escritório… Parece uma rotina comum para um trabalhador comum. A diferença em Death’s Door é que o seu local de trabalho é responsável por ceifar vidas e você é um pequeno corvo! O seu ganha pão é dar um fim à vida dos seus alvos e trazer de volta suas almas para a Sede do Comitê de Ceifadores, já que a Morte não está mais fazendo o seu trabalho.

Anunciado com um charmoso trailer em março e trazendo a experiência de Titan Souls, Death’s Door foi desenvolvido pela Acid Nerve, publicado pela Devolver Digital e lançado para as plataformas Xbox One, Xbox Series X/S e PC.

Esta análise foi possível graças à chave cedida pela Devolver Digital!

Death’s Door é um jogo simples, mas não no mal sentido. Ele traz mecânicas simples, mas muito refinadas. O jogo é basicamente correr, atacar e desviar, como muitos outros. A diferença está nos detalhes que tornam controlar o corvinho uma experiência muito gostosa. Assim como o pulo de Mario é muito mais que apenas um pulo, as mecânicas básicas aqui parecem entregar muito mais do que aparentam.

O jogo parece se inspirar em algumas obras celebradas da indústria, como Dark Souls e Zeldas clássicos. Nestes, por sua estrutura em masmorras com temas diversos, de um reino alagado, dominado por um Sapo, a uma mansão cheia de urnas, residência de uma bruxa parecida com a da Viagem de Chihiro. E naquele, por entregar profundidade na familiarização com movesets tanto de suas armas, quanto dos inimigos, e na forma de criar um mundo através da descrição de itens e alguns NPCs.

As 4 principais áreas são bem distintas entre si, porém, algumas delas dão voltas e voltas, ficando difícil se localizar com precisão apenas pelas referências do ambiente. A falta de um mapa também aumenta a frustração da sensação de estar ao lado de onde se quer chegar, mas não saber ao certo como.

Tratando de um tema como a morte, o jogo toca em alguns pontos que poderiam descambar para lados sombrios, mas tudo evolui de uma forma muito leve e natural, com um humor muito acentuado, algo que me pegou desprevenido. Alguns personagens pincelam questões do mundo atual, como obsessão pelo trabalho, propósito de vida e, obviamente, aceitação tanto de si quanto da morte. Ainda que demonstrem uma certa profundidade caso se pense um pouco mais a fundo, os diálogos e personagens são bastante engraçados e caricatos.

Graficamente, o jogo é lindo. Sua direção de arte e alguns segredos que rotacionam a câmera fazem com que o jogo pareça um diorama a ser explorado ao mesmo tempo que entrega um show de luzes, com os ataques de espada, flechas e bolas de fogo que parecem feitos de neon, que pode deixar as coisas um pouco caóticas, mas apenas o suficiente.

A trilha composta por David Fenn, de Titan Souls e Moonlighter, é muito bonita e passa um tom melancólico mas que não se impede de causar arritmia de tão intensa em alguns momentos.

A história do nosso protagonista, assim como várias outras, começa com uma missão simples, mas que acaba se desenvolvendo e alcançando proporções não imaginadas após um corvo muito maior e mais velho roubar alma que você deveria ceifar e levar de volta ao escritório. Este roubo põe em cheque a sua imortalidade como um ceifador, pois o seu tempo de vida corre quando as portas que você utiliza para alcançar seus alvos se mantém abertas, sem conclusão da tarefa.

No final da aventura, de cerca de 8 horas, ainda senti que queria mais, mais chefes, mais desafios, mais história. Mas também fiquei aliviado que o jogo não se estende mais do que o necessário. Sua maestria em entregar uma jogabilidade focada e precisa é refletida, também, em sua duração.

Ainda assim, para aqueles que, como eu, terminaram ainda sedentos, o jogo tem bastante conteúdo no pós-créditos na forma de coletáveis que podem ser encontrados com a ajuda de Jefferson, o barman, que com certeza é um mamífero com dedos, e podem mais que dobrar a duração do jogo, trazendo puzzles e combates bem mais desafiadores do que a campanha principal. Algo positivo, já que o jogo é fácil e não há opções de dificuldade.

Death’s Door entrega uma experiência muito boa, porém bastante contida. Aparenta maturidade dos desenvolvedores em escolher as batalhas que querem travar e, assim, realizam muito bem aquelas tarefas a que se propõe. Mesmo assim, uma implementação mais inspirada de armas, ou uma variedade maior de áreas e chefes (cujos combates são claramente os pontos altos do jogo) poderiam ajudar bastante a elevar a experiência a um patamar superior.