É difícil falar no calor do momento daquele que foi por muitos o lançamento mais aguardado do ano (e talvez o mais aguardado da história do 3DS), principalmente quando ainda estamos ocupados explorando as novas possibilidades. Por outro lado, algumas vezes precisamos tratar do assunto enquanto tudo ainda está fresco e ao mesmo tempo já tivemos mais do que uma primeira impressão. Essa é uma análise especial sobre o recente jogo da segunda maior franquia da história dos videogames e um dos jogos que mais geraram hype esse ano feita apenas 1 semana após seu lançamento. Vamos agora falar de Kalos, da sexta geração de monstros de bolso e do que mudou na mecânica de jogo.
Kalos e o enredo
Primeira grande novidade: é possível escolher o idioma do jogo! Mas ainda não foi dessa vez que disponibilizaram em português. A grande maioria de vocês que estão lendo isso aqui provavelmente já jogou até mais de um jogo da série e sabe muito bem como funciona a estrutura principal do enredo. Você é um garoto/garota que acaba de ser levado para treinar pokémon após um pedido do professor da sua região. Ele lhe dá um pokémon inicial e acaba lhe pedindo para completar a pokedéx, então na sua jornada você enfrenta os líderes de ginásio, depois a Elite 4 e o campeão da Liga, além de se ocupar acabando com os planos da equipe maligna da região. Ah, e você tem um rival também que começa a jornada ao mesmo tempo que você.
Vamos então falar das diferenças. Pra começar, é a primeira vez na franquia em que se faz um jogo baseado na Europa. Kalos foi totalmente baseada na França, os pokémon lendários da região são da mitologia nórdica e etc. Ao iniciar o jogo, você não apenas responde para o professor de Kalos, Sycamore, se você é um garoto ou uma garota, mas também “como você se parece”. As opções de aparência são apenas 3 quando se inicia o jogo, mudando apenas a cor de pele, cabelo e olhos, mas no decorrer do jogo mais opções estarão disponíveis para se fazer a combinação que quiser e podendo inclusive mudar as roupas. Isso é importante porque o jogo em si chama bastante atenção para o lado estético (falaremos disso mais adiante).
Seu personagem é recém-chegado na cidade de Vaniville. Dessa vez você terá 4 amigos que iniciarão a jornada junto com você e o seu maior rival de batalhas será o protagonista do sexo oposto (a garota se chamada Serena e o nome do garoto é Calem), mas os outros personagens também possuem personalidade e objetivos próprios de modo que também chamarão a atenção do jogador de alguma forma. São Shauna, Tierno e Trevor. Dessa vez a pokédex é fornecida por Trevor (que quer completa-la e algumas vezes compara a dele com a sua pra ver em qual consta mais pokémon) e o pokémon inicial por Tierno e você só encontra Sycamore pessoalmente e recebe um pokémon dele um pouco mais pra frente. É interessante notar que o trio de iniciais de Kalos é baseado em classes de RPG (isso fica claro quando eles evoluem). Froakie é baseado em um ninja/ladino, Chespin em um cavaleiro/guerreiro e Fennekin em um mago.
Professor Sycamore estuda as mega-evoluções, das quais vamos falar mais ao tratar das mecânicas novas do jogo. As mega-evoluções também possuem um lugar no enredo (mas sem spoiler aqui). A equipe maligna da região de Kalos é a Team Flare, que visa deixar o mundo um lugar mais bonito. É claro que não seriam um time maligno se pra isso eles fossem bonzinhos, não é mesmo? Esse é mais um elemento do jogo que chama a atenção pra assunto relacionado à estética (ainda que não seja algo puramente visual e concreto). O mito dos pokémon lendário é de uma lenda de Kalos de milhares de anos, que estão presentes também no enredo principal (a não ser que o enredo principal pra você seja a sua batalha pelas 8 insígnias e a Liga Pokémon).
Obviamente, há coisas para serem feitas após zerar o jogo também. Você ganha acesso à Battle Mansion (sucessora da “Battle Subway” do Black/White), ao Friend Safari, novas quests (envolvendo inclusive o agente Looker) e etc. E, claro, para aqueles mais ligados em jogar competitivamente, a parte mais trabalhosa do jogo começa justamente aí. Vale notar também que é a geração que menos introduziu novos pokémon, com apenas 69 listados. Quem sabe com atualização ou eventos especiais essa lista não possa ser expandida, não é mesmo?
Mudanças na jogabilidade
Como já falamos de mega-evoluções, vamos começar por aí. Esse novo tipo de evolução não é uma evolução permanente (inclusive, desde que saiu a notícia, eu sempre preferi usar o termo “forma”). Ela é ativada através do Mega Ring (que deveriam chamar de bracelete, não de anel) quando o pokémon está equipado com a sua Mega Stone e cada mega evolução possui sua característica própria. Ativar é completamente opcional, mas há limitações. Primeiro, a transformação não é permanente e dura enquanto durar a batalha (ou o pokémon for nocauteado). Segundo, só é possível fazer isso na batalha com um pokémon por time; mesmo que o pokémon seja nocauteado eu não posso ativar a mega evolução de outro. Também é possível desativar a mega evolução se assim desejar. As mega stones estão espalhadas pelo jogo, algumas você só irá encontrar em um determinado horário do dia, outras são exclusivas de uma versão e por aí vai… sim, será trabalhoso conseguir todas.
Houveram também outras alterações nas batalhas. Pokémon do tipo elétrico não podem mais ser paralisados, os do tipo grama não são mais afetados por ataques que envolvam pós (poisonpowder, spore, etc) e os fantasmas são imunes a ataques que normalmente os prenderiam (como mean look). O tipo aço perdeu sua resistência a fantasma e dark (não me conformo em chamar de “noturno”). O que mais sacudiu, no entanto, foi a introdução do tipo fada e onde ele se encaixa nisso tudo. Além de alguns novos, vários pokémon antigo ganharam o tipo (assim como aconteceu com Magnemite/Magnet que ganharam tipo aço na segunda geração), como Marril, Gardevoir, Togepi e outros. Ataques tipo fada são super efetivos contra pokémon tipo dragão, dark e lutador e pouco efetivos contra aço, venenoso e fogo; pokémon tipo fada são imunes a ataques tipo dragão, resistentes a inseto, lutador e dark, e fracos contra venenoso e aço.
Outras alterações nas batalhas se dão por efeitos do pokémon-amie (que, confesso, ainda não entendi muito bem como ainda não está claro para os jogadores de forma geral). De acordo com as informações coletadas, o que está mais certo até agora é que as mensagens de texto durante a batalha, a taxa de críticos e de evasão são influenciadas pelo amie… mas não sei dizer se isso tem efeito em batalhas multiplayer (sinceramente, espero que não). O pokémon-amie é uma ferramenta onde você interage com o seu pokémon, podendo dar carinho, alimentar, jogar jogos e etc.
Ao jogar, muitos acharão que se trata talvez da geração mais fácil. Isso porque upar o pokémon ficou absurdamente muito mais prático. Eu mesmo, durante a minha jogatina, cheguei a revezar 20 ou até mais pokémon na minha equipe só pra demorar bastante e poder desfrutar mais do jogo (sim, isso me atrasou e muito, mas em nenhum momento cheguei a achar o jogo chato mesmo assim). Pra começar, não demora muito no jogo pra você ganhar o exp. all e fazer com que todos os pokémon da sua equipe ganhem experiência e até mesmo EV com as batalhas (embora você possa desativa-lo). Além disso, agora capturar pokémon também concede experiência.
E falando em EV, outra ferramenta disponível é o Super Training. Através de um mini-jogo com temática futebolística e sacos de treinamento (tipo aqueles que pugilistas usam) você vai upando os EVs de seu pokémon de uma forma mais controlada, facilitando muito o trabalho principalmente de quem quer criar pokémon competitivo.
Até mesmo ganhar BP na Battle Mansion é mais fácil, pois agora ganhamos toda vez que vencemos uma batalha, e não apenas quando ganhamos um bloco de batalhas. Batalhas triplas e batalhas de rotação também estão presentes na Battle Mansion, que de resto segue o mesmo esquema da Battle Subway de Black/White. A grande crítica é que não foi dessa vez que implementaram no modo Multi a possibilidade de conectar-se a um amigo online, mesmo o jogo dando um grande passo nesse campo, necessitando estar no mesmo local da pessoa para isso. Claro, isso seria exigir outra grandiosidade do jogo, mas é meio decepcionante quando se avança em tantos campos na interatividade online e essa opção acaba sendo deixada pra segundo plano.
Há agora uma nova modalidade de batalhas entre treinadores, a batalha aérea. Exclusiva para alguns pokémon que voam ou possuem a habilidade levitate, mas esse modo não está disponível em multiplayer. Como disse um amigo meu certa vez, eles poderiam ter dado prioridade a uma batalha aquática/submarina. Quem sabe numa próxima geração… ah, e tem as batalhas em horda também. Essas acontecem quando você encontra 5 pokémon selvagens da mesma espécie ao mesmo tempo, mas em geral estão em nível bem mais baixo que os selvagens do local (ou a coisa seria realmente muito difícil). Chega a ser engraçado você encontrar uma horda de geodudes e eles se matam usando magnitude…
A maior mudança online do jogo fica por conta do Player Search System, o chamado PSS. Você tem acesso a uma lista de jogadores, não só os seus amigos, mas jogadores aleatórios ao redor do mundo também. A partir disso você pode batalhar, trocar, conversar (mas não é possível conversar por voz e jogar ao mesmo tempo, a não ser que seja no meio de uma troca ou batalha com aquela pessoa) e etc. Também é possível enviar o-powers, que são bônus in-game de vários tipos (aumentar defesa, aumentar chance de capturar pokémon, etc). Claro que pra isso é necessário conectar-se à internet (uma coisa opcional), mas dá a sensação de uma interatividade constante. A propósito, o cenário da batalha online é muito bonito.
Se eu mandar um homem e tiver a mega stone dele, ele vira o Megaman?
Bugs, informações extras e algumas críticas
O jogo tem muitos detalhes, recursos e coisas relativas à história que eu simplesmente não comentei. Dado a extensão de tudo, era preciso focar nos pontos principais, mas ainda assim é preciso refletir sobre algumas outras coisas.
Vou começar pelos bugs. Primeiro que em algumas trocas do GTS (sim, o Global Trade Station permanece) o jogo simplesmente crasha e é necessário recorrer ao botão de desligar do console. Eu fiz isso algumas vezes e voltei pra realizar a mesma troca e a mesma coisa acontecia. Daí eu tentei fazer outra troca e funcionou. Isso aconteceu pelo menos em 2 tipos de trocas que eu tentei fazer e já fiquei sabendo que não sou o único com esse problema. Outro bug que aparentemente tem a ver com a conexão do jogo com a internet (esse parece ser mais raro e não aconteceu comigo) é que em uma batalha específica ao enviar um certo pokémon o jogo trava. Esse bug foi reportado por um brasileiro ao enfrentar a Serena na Tower of Mastery e que parece ter resolvido a situação retirando o cartão SD e lutando essa batalha sem conectar-se a internet. Também já houve um acaso de outro jogador que alegou ter um problema parecido ao utilizar o pokémon-amie em um determinado momento.
O bug mais conhecido é do Lumiose City. Alguns jogadores simplesmente têm seu jogo travado ao salvar numa área da cidade, e a Nintendo já comunicou que tomaram ciência do problema e estão providenciando uma solução, mas que enquanto isso evitassem salvar o jogo nessa área aqui:
Já falei da decepção de não poder conectar-me via internet a um amigo para jogar o modo Multi da Battle Mansion, e talvez isso seja parte da resposta. Pode ser que a Nintendo já tivesse alguma ciência de que o modo online traria problemas de início e preferiu segurar as pontas e limitar um pouco os avanços. Mas outra decepção ao meu ver fica por conta do enredo. Não é um mal enredo, mas eu confesso que estava esperando algo no nível de Black/White, que ao meu ver possuem o melhor enredo e conceito por trás dele.
Falando em conceito, lembram do que eu falei sobre a estética ser importante? Isso casa com a nova proposta gráfica do jogo. Há mais de uma década os fãs esperavam um jogo em 3D de pokémon para a série principal, e nada melhor que fazer isso com um jogo focado em beleza (nessa proposta a Nintendo acertou muito bem a mão). Eles carregaram pro jogo a imagem da França como um “país bonito” e mostraram isso muito bem em Kalos, sem falar no objetivo da Team Flare. A questão da aparência do personagem não está só na customização do treinador como também na gravação de vídeos, fotografias e etc. As animações dos ataques e os movimentos dos pokémon estão obviamente muito mais bem trabalhados (embora depois de jogar o jogo eu enxergue que dá pra ir até mais além mesmo no 3DS).
Não sou uma biblioteca ambulante no 3DS, mas nunca vi o 3D cair tão bem num jogo. Isso porque ele foi pensado pra ser usado com moderação, ou seja, não está todo tempo ativado, apenas em batalhas e em dungeons (ainda assim não em todas), pra felicidade daqueles que têm dificuldade em olhar por muito tempo. O jogo, que já é bonito em 2D, fica muito melhor nas cenas em 3D. O único problema é que em algumas situações durante as batalhas o 3D pode causar queda de frames. Não é algo constante e não chega a atrapalhar de fato o jogador, mas talvez ajude a explicar o porquê do 3D não estar disponível por exemplo em batalhas em dupla.
Mas a beleza não é só naquilo que é puramente visual. Os sons dos pokémon estão também melhores trabalhados e Pikachu agora fala o próprio nome (privilégio de ser um mascote). Confesso que as músicas, embora boas, não são as mais empolgantes da série, embora tenham indiscutivelmente uma qualidade de som melhor do que os fãs da franquia estão acostumados. Inclusive, por Kalos, você vai encontrar muitos npcs fazendo comentários pertinente a questões estéticas e não apenas do aspecto visual.
Outra coisa legal do jogo são as referências. Coisas como “over 9000”, “my body is ready” e tantas outras estão presentes. Há inclusive um npc em um centro pokémon que comenta que está jogando um jogo legal onde um carinho esmaga inimigos ao som da música (ah, Gamefreak… falando nisso, você pode encontrar aqui na Casa do Cogumelo a análise de Harmoknight que eu fiz). Mas existem também referências aos jogos anteriores da franquia, e eu diria que a mais legal dela é uma floresta que é nada menos que a cópia de Viridian. É a Santalune Forest e até o posicionamento dos treinadores é o mesmo. Existem referências no texto que dependem do idioma. Por exemplo, tem um npc que quando você joga em inglês diz que deu ao seu pokémon o nome de Sepultura (um salve aos fãs de metal), mas ao jogar em espanhol ele diz que nomeou o pokémon de Ash Ketchum.
O veredito? Existem coisas pequenas, como andar em diagonal, sentar em bancos e o seu personagem se curvar para falar com crianças e pokémon pequenos, e existem coisas grandes, como uma promessa de metagame mais balanceado, que se combinam e tornam Pokémon X e Y o jogo pelo qual uma grande parcela de fãs estavam aguardando de fato. Sim, a espera valeu a pena. Ele poderia ter mais pokémon novos, poderia ter pelo menos mais algum lendário novo (além de apenas 3) para adicionar mais detalhes à mitologia do universo pokémon, poderia talvez ter vindo talvez sem bugs e com uma estrutura online melhorada. Mas eu ainda assim arrisco a dizer que, em toda a história dos portáteis da Nintendo, esse seja um candidato a melhor produto que ela lançou para essa categoria de console. Se seus maiores defeitos são bugs e problemas com o processamento, então talvez seja justo dizer que a cautela em não ter ido mais longe acabou sendo um acerto ou iriam enfiar os pés pelas mãos. Vou mais além e, por mim, seria um forte candidato a jogo do ano entre todas as plataformas. Sem exagero nenhum.
Visual – 10/10
Jogabilidade – 9,5/10
Som – 10/10
História – 8/10
Carisma – 10/10
Nota Final – 9,5/10
Jogabilidade – 9,5/10
Som – 10/10
História – 8/10
Carisma – 10/10
Nota Final – 9,5/10
Sim, os bugs, principalmente referentes ao modo online, e a minha leve decepção com o enredo me impediram de dar um 10. Mas sou apenas eu sendo exigente. Acreditem, meu lado de fã está gritando de excitação desde que botei as mãos na caixa do meu jogo. E vocês? 😉