Análises

Análise: The Eternal Castle [REMASTERED]

No final dos anos 80 foi lançado Prince of Persia, um jogo feito por apenas uma pessoa, com ajuda do seu irmão como modelo para acrobacias, pulos, escaladas e quedas. As animações do jogo eram extremamente fluidas devido à técnica de rotoscopia implementada.

O grande sucesso de Prince of Persia levou ao nascimento do subgênero conhecido como “plataforma cinemática”. Flashback, Out of This World e Blackthorne são apenas alguns dos sucessos que surgiram durante os anos 90 e, mais recentemente, Limbo e Inside são alguns dos expoentes.

Puxando a nostalgia, uma equipe de desenvolvedores ao redor do mundo embarcou na missão de criar o jogo que gostariam de ter jogado em suas infâncias. Assim nasceu The Eternal Castle [REMASTERED] uma versão melhorada e com mais conteúdo de um fictício jogo de 1987.

Recebemos uma chave para fazer esta análise no Nintendo Switch.

História

No ano de 2XXX, a humanidade falhou em se manter no planeta Terra e teve que se voltar para o espaço, onde criou instalações sustentáveis. Isso não durou muito. Ataques terroristas e guerras mundiais acabaram com as chances de sucesso do projeto, levando à degradação do ambiente. Rios tóxicos, mudanças climáticas e guerras radioativas, aliados a escassez de recursos, fizeram com que a humanidade fosse dizimada quase totalmente. Algumas colônias espaciais sobreviveram por muitos anos, mas seus recursos eram finitos, então enviaram sondas coletoras para buscar recursos no planeta. Uma dessas sondas não voltou. Cabe a você ir atrás dela e salvá-la.

É difícil de ler e não dá uma primeira impressão muito boa, assim como o jogo

Você escolhe seu personagem entre Adão e Eva para enviar numa nave espacial, rumo ao planeta Terra, em busca da unidade coletora desaparecida. Ao entrar na atmosfera terrestre, sua nave é surpreendida com um míssil lançado da superfície do planeta. Você sobrevive à queda, mas sua nave precisa de mais força para conseguir voar e alcançar seus objetivos.

Durante a busca, você encontra vários tipos de habitantes. Criaturas semelhantes a zumbis, pessoas com características tribais e até militares. Cada grupo tem a sua própria narrativa, envolvendo conflito, enganação e um pouco de insanidade, desvendada conforme se avança na busca pelo combustível da nave.

Gráficos

Com certeza, um diferencial deste jogo. A utilização de rotoscopia, ou estilo que emula esta técnica, faz com que o jogo tenha animações muito bonitas, principalmente nas cutscenes. Logo no início, a sequência de abate de sua nave já impressiona com seus gráficos super estilizados com cores chapadas fortes e que deixam muito do detalhamento para a imaginação do jogador.

A escolha da paleta de cores é inspirada na limitação dos computadores antigos e, mesmo que os elementos pareçam remanescentes dos computadores dos anos 80 e 90, o conjunto da obra certamente é frutos da computação moderna.

O jogo não é muito explícito com sua violência, mas também não se deixa intimidar e apresenta algumas cenas fortes e inimigos grotescos, que são ressaltados pelo estilo que facilita muito o destaque de certos elementos visuais.

Som

A trilha faz um bom trabalho de inserir o jogador no universo do jogo. Ambientes abertos tem sons de vento e barulhos distantes, os sons nos esgotos ecoam e te dão uma sensação desagradavelmente úmida e trazendo músicas mais agitadas para os momentos chave da ação, sempre com um ápice satisfatório.

Acompanhando o som, o uso do rumble também traz uma imersão impressionante. Passos pesados transparecem sua força e são sentidos de longe e te fazem hesitar, tamanha a intensidade da vibração e ambientação. Os efeitos de tiros e pancadas, da mesma forma, são satisfatórios e te dão uma sensação de força muito grande, quando você está do lado certo do cano.

Jogabilidade

Assim como outros jogos do mesmo gênero, a jogabilidade se baseia em conhecer e saber aplicar as diferentes animações. Acertar o “timing” dos pulos e dos ataques é fundamental. A quantidade de frames de invencibilidade é bem grande, inclusive em algumas ações que, aparentemente, não deveriam tê-los.

O jogador deve explorar 4 áreas em busca de GLIDERS que dão força a sua nave. No caminho, cada tipo de inimigo traz um desafio diferente, tanto pelo seu comportamento, quanto pela sua arma. Alguns portam machadinhas ou machados e podem ser derrotados facilmente com socos, já outros têm metralhadoras e se aproximar frontalmente pode ser fatal.

Há um leve elemento de furtividade no jogo, sendo possível se aproximar de inimigos e até avançar algumas áreas sem engajar em confronto direto. Mesmo assim, sua principal forma de interação com o mundo é baseado na violência, espaçada entre alguns pontos de meditação, que recuperam sua vida e servem como checkpoints, caso o jogador morra.

A campanha principal de jogo tem poucas horas de duração, deixando uma sensação de potencial não alcançado, já que ela termina quando se começa ter uma familiaridade maior com os controles. Convenientemente, após finalização desta primeira parte, dois outros modos de jogo são liberados, “Duel” e “Sacrifice”.

Em “Duel” você é colocado em uma pequena arena e deve derrotar um único oponente. O primeiro a sobreviver 3, 5 ou 10 partidas é declarado vencedor. Já em “Sacrifice”, o estilo de jogo se altera. Os checkpoints são deixados de lado e, a cada falha, o jogador volta para o ponto inicial, a cabana de um xamã em um assentamento na Terra. O jogo neste modo puxa muito de roguelites, mantendo itens conseguidos em tentativas anteriores e deixando abertos alguns atalhos encontrados pelo caminho. Esta segunda campanha é mais desafiadora e foca mais na boa execução de comandos do que em momentos memoráveis. Mesmo assim, foi a parte que mais me agradou do jogo, quando as mecânicas “clicaram” para mim.

Espalhado pelos cenários, existem itens que te dão algumas melhorias, como dano maior, recuperação automática de vida, mais munição, etc. Além disso, os “fragmentos” dão uma desculpa para se revisitar o jogo.

Veredito

Um jogo peculiar, que se apresenta como um remaster com conteúdo adicional de um clássico que não existe e reserva algumas surpresas quando você acha que já sabe o que esperar dele. Aparentemente simples, há muita satisfação em conseguir executar o que se quer dentro das limitações impostas pelo gênero do jogo.

Peca por não deixar muito claro alguns comandos de interação, que as vezes são feitos com o botão B e as vezes com o A, e por ser um pouco curto demais. Como Dark Souls, o jogo pode parecer um pouco intimidador a princípio e é preciso aprender como o jogo quer ser jogado. Após a barreira inicial, de adaptação à forma de controle e entender o que é realmente importante de se prestar atenção na tela, o jogo fica uma delícia, mesmo que não seja tão preciso quanto eu gostaria.

Tenicamente, o jogo poderia melhorar. Em algumas situações mais caóticas (e outras nem tanto) é possível notar uma queda na taxa de quadros que incomoda, assim como uma eventual congelada na tela que parece ser um pequeno loading que deveria ter ficado escondido em segundo plano.

Inicialmente, pensei que não iria nem terminar o jogo, mas ele consegue cativar com uma história intrigante e gráficos espetaculares. De forma análoga aos jogos dos anos 80 e 90, a história não é muito explicada, mas me deixou curioso, querendo saber mais deste universo e suas histórias.