Existem muitas coisas que desejamos nos nossos games favoritos. Algumas delas viram realidade, outras não. Outras vêm, mas não exatamente do jeito que queríamos. Seja um Pokémon para console que siga o padrão dos portáteis ou mais games de third parties, nunca saberemos quando a Nintendo vai atender a vontade dos fãs. Algo muito esperado (desde “On-Foot Mode” de Star Fox 64) é poder jogar com Fox Mccloud fora das naves. Nossa Máquina do Tempo vai nos levar ao o primeiro jogo em que Fox desce da sua Arwing para enfrentar os inimigos de Lylat System.
Bem vindo ao Planeta dos Dinossauros
Por volta dos anos 2000, um jogo novo da Rare estava sendo produzido e que sairia para o vindouro Game Cube, sob o nome de Dinosaur Planet. Um extenso material foi divulgado pela empresa antes do lançamento, como ilustrações, screenshots, trailers e até mesmo algumas partes da trilha sonora. Neste game, dois personagens seriam protagonistas ao mesmo tempo. Um deles é Sabre, filho de um mago chamado Randorn. A outra personagem é Krystal, filha adotada do mago. O jogo possibilitaria o uso dos dois de forma alternada, estando em locais e seções diferentes. Para fazer a troca entre os dois, o jogador usaria um personagem chamado “Swapstone”. Cada personagem teria uma arma única: Sabre usaria uma espada e Krystal um bastão. Epa, espera aí um pouquinho. Isso aqui não era pra ser Star Fox? Cadê as naves e o nosso herói e aquele sapo que não para de falar? Bom, vamos prosseguir com a história que tudo vai se revelar.
Inicialmente esse jogo era planejado para estar no Nintendo 64 e fechar o console com chave de ouro. O jogo teria vários elementos de The Legend of Zelda e Conker’s Bad Fur Day. O problema é que o console já estava chegando aos seus dias finais e logo seria substituído pelo novo projeto da Big N. A essa altura do campeonato, Shigeru Miyamoto já estava de olho no desenvolvimento do jogo Dinosaur Planet. Ele percebeu as diversas semelhanças dos personagens desse game com os de Star Fox e decidiu que seria mais viável misturar os dois universos.
Depois de negociar com a Rare, o acordo foi feito e o jogo se tornou, por um breve momento, Star Fox Adventures: Dinosaur Planet. Com o novo projeto em mente, várias modificações tiveram que acontecer. A primeira e mais óbvia, foi a inclusão da equipe de mercenários Star Fox. O líder da equipe, Fox Mccloud, acabou entrando no lugar de Sabre. Como os dois eram muito parecidos e era evidente que a nossa querida raposa teria maior apelo em um jogo novo, o antigo personagem foi retirado do game. Krystal se tornou uma personagem secundária, Randorn deixou de existir, virando um EarthWalker e sua casa se tornou o Krazoa Palace. Na versão final, o jogo mudou o nome para apenas Star Fox Adventures.
Vídeo do jogo Dinosaur Planet, caso ele fosse lançado em sua forma original
What does the Fox say?
O jogo começa com a personagem Krystal, uma espécie de mistura entre lobo e raposa. Ela está procurando respostas para a destruição do planeta natal dela, Cerinia. Krystal está montada em seu pterodátilo quando recebe um sinal de socorro de Krazoa Palace e parte para descobrir o que é. No meio do caminho ela acaba perdendo seu bastão e é atacada por um navio voador. Dentro do navio ela encontra o terrível comandante General Scales, que controla o exército Garras Afiadas. Ela descobre que Scales está dizimando o planeta e é convencida pela Tribo EarthWalkers (os famosos e inexistentes Triceraptops) a ajudar o planeta, coletando os Espíritos de Krazoa e os devolvendo até o palácio. Fazendo isso, a guerra iria se tornar mais favorável para os EarthWalkers e eles conseguiriam impedir o general.
Enquanto isso, no espaço, a equipe de mercenários Star Fox continua sua patrulha pelo sistema Lylat. Oito anos após o triunfo sobre Andross, a equipe liderada por Fox Mccloud continua sua eterna vigília contra as forças do mal. Slippy Toad, Peppy Hare e ROB ainda estão na equipe, mais velhos e mais experientes. O velho lobo solitário Falco Lombardi cansou do tédio da paz e partiu para algum lugar desconhecido. Slippy se tornou o mecânico oficial da nave Great Fox e Peppy deixou as atividades de combate, se tornando navegador e conselheiro da nave. Como a nave já viu dias melhores e as reformas custam muito dinheiro, a equipe aguarda um chamado para que possam pagar os custos de manutenção. Isso acontece quando o General Pepper pede para que Fox vá até os limites do sistema Lylat e investigue o que está acontecendo no Planeta Sauria (Antes chamado de Dinosaur Planet), pois ele pode explodir e isso afetaria todo o Sistema.
Fox Mccloud utiliza sua clássica Arwing para chegar até o local. A pedido do General Pepper, ele desce sem nenhum armamento, pois a raposa é do tipo que “atira primeiro e pergunta depois” e isso causaria problema com os habitantes do planeta. Casualmente ele encontra o bastão mágico de Krystal e aprende como utilizar os seus poderes. Fox conhece a rainha da tribo dos EarthWalkers, que conta como General Scales roubou pedras mágicas do planeta. Ele agora precisa juntar as pedras e devolve-las para os seus respectivos templos e para isso ele obtém ajuda do Príncipe Tricky, o dinossauro filho da rainha. Quando ele termina esta missão, descobre que precisa recuperar os espíritos para restaurar o planeta e salvar a vida de Krystal.
Em sua busca pelos espíritos, a raposa descobre que o último está sendo guardado pelo General Scales pessoalmente. Quando eles iriam iniciar um combate, as vozes dos espíritos dizem para Scales se render e entregar o último espirito de Krazoa. Fox consegue pegá-lo e devolver ao santuário e liberar Krystal. Os espíritos são forçados a entrar em uma estátua de Krazoa, que se revela ser o próprio Andross, o mestre por trás de todo o estratagema dos espíritos e que os utilizou para destruir o sistema Lylat. Fox voa com sua Arwing para derrotar o maligno Andross e para sua surpresa, Falco aparece para ajuda-lo. Fox Mccloud consegue derrotar o último chefão e devolver os espíritos para o planeta, restaurando a paz. Falco volta a se unir a equipe e Krystal vai até a Great Fox para agradecer e decide que também quer fazer parte da Star Fox.
The Legend of Fox Mccloud
Star Fox Adventures foi lançado no primeiro ano do Nintendo GameCube e possuía gráficos muito sofisticados para a época. Isso era possível notar com mais clareza no pelo de Fox, que tinha uma renderização excelente. Assim como em Ocarina of Time, o jogo fazia transição de dia para noite, mas agora com muito mais precisão e de forma mais gradual.
O gameplay acontece praticamente todo com missões no chão e Fox utilizando o bastão. A presença da Arwing é muito pequena, aparecendo apenas para entrada em outras partes do planeta. No chão, a raposa utiliza sua arma de duas formas. Uma forma é o combate físico, com combos de ataque que progridem conforme o jogador continua atacando. A outra é com mágica. Existem vários poderes que o bastão pode utilizar, a maioria são disparados da ponta da arma, como forma de projéteis. O príncipe EarthWalker também age sob o comando de Fox, fazendo as ações que são necessárias para resolver os puzzles, como cavar ou derreter paredes de gelo. McCloud não pode pular, a menos que ele corra até a borda de um lugar. Ele pode rolar quando cair no chão, no mesmo estilo que Link em Ocarina of Time. A principal diferença desses jogos é que a mira localiza e foca automaticamente nos inimigos quando eles se aproximam.
O game possui também uma espécie de “Context-sensitive pad” que conhecemos de Conker’s Bad Fur Day. O jogador precisa ir até objeto e visualizar um botão nele, para que assim possa ativar algo que irá resolver a situação. Enquanto a qualidade gráfica é digna de muitos elogios e os controles são simples e práticos, as músicas deixam a desejar. Como foram projetadas principalmente para Dinosaur Planet, ficamos órfãos da trilha sonora em estilo épico que existia em Star Fox 64. Os efeitos sonoros são simples e eficazes, mas a trilha sonora não nos remete ao bom e velho tempo em que a música de Sector X nos deixava apreensivos ou ainda mais empolgados por estar em Venom.
Star Wolf, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver
A vida em Star Fox Adventures é cheia de mistérios desde a sua criação. Afinal, que jogo é esse? Dinosaur Planet ou Star Fox? A resposta pra essa pergunta pode ser mais difícil do que parece. Aí vão alguns fatos que podem ajudar a responder, ou não:
Wolf O’Donnell e a equipe Star Wolf não aparecem neste jogo;
É um dos poucos jogos de Star Fox que não teve diálogo em japonês, todos sempre falaram o inglês e a língua dos dinossauros;
Este foi o primeiro título de Star Fox feito pela Rare e o último feito para consoles de mesa da Nintendo;
O jogo recebeu a classificação T (para maiores de 13 anos) por conter sangue animado;
A única maneira de aparecer sangue no jogo é se o jogador bater várias vezes no dinossaurinho Tricky;
Antes de iniciar o jogo, é possível ver várias cenas do game no computador de bordo do Fox.
No manual do jogo existe a explicação do idioma “Dino”, ensinando o jogador a traduzir as falas;
General Pepper foi baseado no álbum dos Beatles Sgt. Pepper’ Lonely Hearts Club Band, em que, na capa, os integrantes da banda estão vestidos com roupas de banda marcial (essa curiosidade vale pra série toda, obviamente).
Bom para as revistas, mas e os fãs?
No Japão, Star Fox Adventures vendeu mais de 200 mil cópias e foi o jogo que vendeu mais rápido de GameCube naquela época. A crítica especializada aceitou muito bem o jogo, tendo adjetivos como “companhia perfeita” para a série de The Legend of Zelda, de acordo com a IGN. A revista EGM elogiou o jogo, considerando o trabalho uma obra de arte. Mesmo com muitos reviews positivos feitos pela crítica especializada, atingindo notas consideráveis, de mais de 75%, o game foi muito criticado por se distanciar da realidade de um jogo da série Star Fox. Os fãs em geral esperavam uma evolução dos antigos jogos, mas na verdade não foi isso que receberam.
Star Fox Adventures é um jogo peculiar, divide muito a opinião dos jogadores. Pensando no jogo de forma simplista, ele é um bom game de aventura. Possui elementos necessários, como puzzles para resolver, inimigos que aumentam de dificuldade progressivamente e objetivos bastante característicos desse tipo de game. A qualidade gráfica e os controles fáceis ajudam a criar esse universo de diversão. Mas existem alguns problemas que pesam bastante. Com o gameplay bastante extenso, o jogo se torna um pouco repetitivo em alguns momentos. Os puzzles muitas vezes se repetem e são fáceis de resolver e a pouca presença de batalhas espaciais na Arwing fazem falta neste game.
É evidente que a troca de planejamento do jogo acabou afetando o trabalho final. A Rare estava em negociação e em breve iria sair da Nintendo, o que explicaria a necessidade de finalizar o jogo rapidamente. Mesmo assim, o jogo é muito bom. Com certeza não é o Star Fox que todos desejavam, falta muita coisa para completar isso. Mas as qualidades do jogo conseguem passar por cima disso. Os diálogos são interessantes e engraçados e nos aproximam mais desses queridos personagens. Jogar com Fox Mccloud é sempre algo inusitado e divertido, mas o jogo peca pela falta de batalhas em uma das melhores aeronaves dos vídeo-games. Se você procura um jogo de Star Fox, talvez esse não seja a melhor indicação, mas Star Fox Adventures tem um bom enredo e um gameplay divertido que vale a pena conferir.
Criador do A Casa do Cogumelo, Game Designer e Criador da Madpix Game Studio. Formado em Artes Visuais e Pós-Graduado em Game Design. Quatro vezes melhor do Mundo em Mario Kart 7 e apaixonado pela franquia Mario.