Já faz um bom tempo que queria trazer este tema para o Papo de Gamer, e só não o fiz antes por não me achar com argumentos válidos o bastante para levantar um debate saudável aqui na casa. Felizmente, a reflexão foi boa para falar de alguns pensamentos em que posso estar errado ou não, porém aberto a ouvir opiniões que ajudem a engrandecer a todos.
Dito isso, vamos às vias de fato, e desta vez não chega ser algo diretamente envolvendo a Nintendo, mas todo o mercado de games. Se você acompanha os anúncios da “concorrência”, deve ter acompanhado o anúncio da personagem Laura Matsuda em Street Fighter V, e toda a polêmica gerada por ela e o estágio do Brasil.
Por um lado, eu concordo com a sexualização exagerada e desnecessária da personagem, mas por outro… Os argumentos que pude encontrar internet a fora só serviam para justificar mais a existência dela do que o contrário.
Mas vamos lá falar de um assunto um tanto complicado, porém importante para integrar ainda mais uma parcela do mercado que (ao meu ver) deveria estar há muito mais tempo.
Videogame nunca foi coisa só de menino
Por mais que fosse surpreendente ou até estranho em um primeiro momento quando éramos adolescentes ou mesmo crianças quando víamos uma menina gostar e jogar games, ou uma menina se surpreender com as reações por vezes contrárias de suas preferências dos garotos, convenhamos que boa parte do que tivemos até hoje no mercado não era feito unicamente para meninos, embora a intenção fosse essa. Pensamentos divisórios como esse, na verdade, são bem absurdos.
Vejamos o caso da Nintendo. Por mais que esteriótipos femininos dignos das antigas histórias da Disney estivessem presentes em alguns de seus games (Peach, Zelda, Daisy, por exemplo), também tivemos bons exemplos de personagens femininas que serviam de exemplo para todos. Samus Aran não foi a primeira grande figura feminina dos games, mas sem dúvidas quebrou tantos paradigmas como sua inspiração cinematográfica, Ellen Ripley.
Linda sem precisar ser vulgar. |
E por mais “conservadora” que a Big N seja, mesmo suas personagens não ficaram no papel de donzelas indefesas por muito tempo. Zelda e Peach, que seriam as mais “frágeis”, já participam dos games de forma mais ativa, auxiliando os heróis ou mesmo sendo protagonistas. Quantas não poderiam ter sido inspiradas por ambas?
O ponto em que quero chegar é que, por mais que os videogames, assim como várias mídias voltadas para “nerds”, tenham sido feitas para agradar uma parcela masculina e até então renegada pela sociedade, eles na verdade nunca foram algo apenas para garotos. Sim, existiram poucos exemplos, mas estes mostraram qualidade muito superior a qualquer game apelativo.
Mas infelizmente, não é assim que boa parcela da internet pensa. Li muito nos últimos tempos como o “meio nerd” tem se tornado cada vez mais preconceituoso e extremista, e tenho que concordar quando a falta de argumentos de alguns é substituída por birras dignas de um certo filho da Dona Florinda. E isto vai desde os pensamentos retrógados sobre diminuir o papel feminino, como os pensamentos supostamente revolucionários, mas que apenas mudam o lado da moeda.
Criando uma Identificação Apropriada
Sim, ela está com poucas roupas. Mas honestamente, onde está a sexualidade? |
Antes de comentar mais a fundo o caso da personagem brasileira de SF V, cabe ressaltar um caso que vi no ano passado, que não gerou o mesmo nível de reclamações, mas houveram mesmo assim. No novo Super Smash Bros., Zero Suit Samus tem uma skin que remonta ao seu visual do final de Metroid Fusion (essa imagem ao lado). E por mais chamativa que esteja na imagem, a heroína não deixa sua essência de lado.
Antes de mais nada, sou contrário a ideia de sexualização, seja masculina ou feminina, com o objetivo único de atrair jogadores e alavancar vendas. Além de não dar a profundidade que os personagens merecem, eles acabam por não dar os exemplos que poderiam tornar seus jogadores pessoas melhores.
Ao meu ver, um bom uso da sensualidade é quando ela faz parte da personagem, e não uma característica atribuída a ela que destoa de sua caracterização. No Street Fighter mesmo temos dois exemplos – um negativo e um positivo – para o uso, respectivamente Elena e Poison. Enquanto a primeira anda praticamente nua e conta com uma personalidade quase ingênua em meio as roupas quase nulas, a segunda literalmente faz uso de seu corpo como arma.
E a Nintendo não fica atrás nessa história. O jogo mais recente da franquia Metroid, Other M, trouxe uma Samus um pouco diferente do que estávamos acostumados. Continua durona, mas aspectos antes pouco retratados passaram a chamar mais atenção.
Entender essas diferenças ajuda a fomentar um diálogo não apenas para assuntos polêmicos envolvendo os games, como na própria sociedade como um todo. A divisão de opiniões quanto a personagem brasileira Laura em SF V é um reflexo destes tempos em mudança.
Somos Todos Diferentes e Iguais
Longe de querer criar uma cartilha sobre machismo X feminismo, cabe um detalhe importantíssimo que poucos se atentam quando tais discussões se tornam acaloradas demais: todos nós compartilhamos traços sociais como seres humanos. Temos nossa individualidade enquanto características, vivências e experiências, mas todos temos estas características nas quais não se pode fugir. A morte é uma delas, e a necessidade de união também. Você já deve ter visto em algum lugar como um lápis é fabricado.
Com isso em mente, de nada adianta incluir quaisquer opiniões de superioridade, quando no fundo todos iremos para o mesmo lugar. Que se lute pela igualidade como forma contrária de opressão (e não uma certa teoria que defende a igualdade você concordando com isso ou não…), mas que se entenda as diferenças e as particularidades para ser algo justo e compreensível a todos.