Finalmente, depois de tantas intempéries tecnológicas, tive a oportunidade de jogar Mother 3 na íntegra. E pude entender os motivos que fazem seus fãs tão apaixonados não apenas pelo segmento de Earthbound que não chegou oficialmente no ocidente, mas por toda a série. Estou empolgado o bastante para conferir a história de Ness, que ganha uma pequena homenagem durante Mother 3.
Não, isso não é nem um pouco bonitinho. Muito pelo contrário… |
O motivo de querer trazer esta experiência à tona é a capacidade da narrativa de Shigesato Itoi ser envolvente o bastante para trazer os famosos “ninjas cortadores de cebola que atacam a visão do mais durão dos homens”. Ou qualquer analogia boba sobre fazer marmanjos escorrerem algumas lágrimas.
E assim como várias histórias que causaram a mesma sensação em vocês, vamos falar um pouco deste ponto máximo de um game, o ponto em que podemos decididamente dizer que ele é uma obra de arte.
Quando um Game te Conquista?
O melhor momento em que nós gostamos de fato de uma história é quando ela nos diz algo sobre nossas vidas, ou quando nos identificamos em um ou mais personagens. No caso dos games, minha primeira experiência neste sentido foi com Final Fantasy IV, e sua história marcante sobre vingança, honra e redenção, coisas que até então nunca tinha me importado em um game, e para ser sincero, na vida como um todo. A partir dali, passei a ver os games com um pouco mais de seriedade enquanto ferramenta narrativa, embora a imaturidade de um pré-adolescente nublasse pensamentos mais profundos.
Sim, são bonequinhos pequenos. E sim, possuem mais carisma que muitos AAA por aí. |
Mas nos games, temos uma relação um pouco diferente. Talvez a jogabilidade o atraia mais do que a história (os Beat’em ups dos anos 90 que o digam), o level design seja desafiador o bastante, entre tantos outros fatores que nos façam imergir nestes vários universos.
O ponto em que quero chegar é que a partir do momento em que um game te conquista enquanto jogador – e pode ser aquele que todo mundo odeia – não há quem o faça mudar de ideia. O que nos faz pensar que nem sempre opiniões muito bem embasadas sejam as ideais quando você mesmo pode ir e descobrir por si mesmo.
Arte é o que se Comunica com Você…
… E não importa que existam críticos especializados, estudiosos e afins dizendo o contrário. Ainda que estudem técnicas e possuam amplo conhecimento, a essência de qualquer obra de arte – em qualquer mídia – é que ela seja capaz de se comunicar com seus leitores/espectadores/jogadores, logo nenhum especialista pode dizer para você o que é e o que não é de fato tocante.
E nisso podemos encaixar Mother 3, por exemplo. Em um primeiro momento, você pode não gostar dos gráficos, achá-los um tanto infantis para o seu gosto, o sistema de batalha defasado para os tempos atuais, e tantos outros motivos para achá-lo estranho. Eu mesmo não tinha dado uma chance por não gostar de lutar em primeira pessoa – reflexos de quem cresceu com Final Fantasy como referência de JRPG.
Adoráveis, não é? Espere até conhecer a história a fundo… |
Felizmente, deixei esse tipo de preferência de lado para acompanhar uma história madura, que toca em temas pesados como relações conturbadas entre famílias, felicidade, ganância e usura, e até mesmo temas bem “atuais” no que se refere a liberdade com que são tratados hoje, como homossexualismo, abusos de infância e drogas. E com essa identidade visual que remete vagamente aos bonecos playmobile… Daí você imagina a relutância da Big N em trazer o episódio para cá.
“Ei, Mundo Aí! Cuide Bem Dele!”
Não vou dizer de onde veio essa frase, mas posso garantir que ela diz muito sobre o que poderia mudar no dia a dia. Esse tipo de pensamento, que veio do que experimentei em Mother 3, é um dos efeitos mais poderosos numa história: a capacidade de lhe inspirar uma mudança de atitude, ou menos ter a reflexão com ela.
E isso pode ser feito da maneira mais divertida possível. Tenho escutado muito a respeito de pessoas que preferem curtir materiais da cultura pop pelo relaxamento e pelo escapismo do mundo moderno, tão saturado de situações desanimadoras. Não os culpo, mas mesmo nestes momentos em que a vontade de “desligar o cérebro” e não pensar em nada seja grande, se permita mergulhar em si mesmo e se conhecer através dos games. Diferente de qualquer frustração, esse é o tipo de atividade na qual vale a pena se cansar.