Análises

Análise: Battlefield 2042

Battlefield 2042 traz à tona mudanças significativas à série de tiro em primeira pessoa que conquistou uma legião de jogadores ao longo dos anos. Desenvolvido pela DICE e publicado pela Electronic Arts, o game lançado para as plataformas Xbox, PlayStation e PC foca somente em modos online para imergir jogadores em frenéticas disputas por territórios ou ataque contra defesa, por exemplo, mas mesmo sem um modo campanha, Battlefield 2042 consegue apresentar algo que sempre rendeu sucesso e diversão: o caos. É no caos dos embates com até 128 jogadores, explosões, tiros e até em repentinas mudanças climáticas que o título diverte, mesmo que, em alguns momentos, a calmaria de ter que correr em direção aos embates interrompa o frenesi e a máxima do “tiro, porrada e bomba”. Abaixo, você confere nossa ana´lise do game, cujos desenvolvedores nos enviaram uma key.

História

Como comentei, o game não conta com um modo campanha como em outros títulos da série e foca somente nos modos multiplayer para divertir os jogadores. Mas mesmo sem uma campanha, Battlefield 2042 conta, sim, com uma história, que inclusive é narrada através dos próprios modos online do game. De forma direta, a história do jogo explica que, após mudanças climáticas e um apagão global gerarem conflitos entre Estados Unidos e Rússia, que buscam dominar diferentes territórios ao redor do mundo, uma guerra surge em 2042, e os jogadores tomam um dos lados do conflito para atirar, explodir, correr, pilotar veículos e lutar pela vitória. O curta Exododus, lançado em 2021, ajuda a abrir o caminho do mundo do game aos jogadores. Assista abaixo:

Para muitos, um modo campanha seria indispensável em um game com a temática de guerra – ainda mais quando o assunto é a própria franquia Battlefield -, mas admito que a proposta imposta pela DICE e EA em focar somente no embate entre jogadores nos modos online não me influenciou negativamente. Vou me aprofundar nas mecânicas e em tais embates abaixo, mas preciso destacar que se o foco é na ação e duelos, a história e a campanha podem ser deixadas de lado em alguns casos – o que, consequentemente, podem afetar negativamente jogadores que acreditam ser indispensável aprender sobre a história de um jogo através de um modo linear e narrativo. Aliás, se levarmos em consideração outros shooters cujo foco é a trocação de tiro e disputa por territórios e outros objetivos, a campanha em si nem sempre precisa ser o grande foco. Por mim, sem qualquer tipo de problema quanto a isso.

Imagem: DICE/Electronic Arts

Jogabilidade

Os maiores destaques e, querendo ou não, os maiores defeitos de Battlefield 2042, no fim das contas, são todos os aspectos que envolvem sua jogabilidade. Ao iniciar uma partida e surgir em um ponto do mapa, é preciso percorrer longas distâncias até encontrar adversários, principalmente se o game for jogado nos consoles, já que coloca 64 jogadores num mesmo mapa – este número sobe para 128 na versão para PC. E por mais que isso seja algo presente na franquia, é algo que me gera incômodo. Infelizmente, isso não é diferente em Battlefield 2042. No modo Conquista e Ruptura, por exemplo, isso é evidenciado a todo momento. Enquanto as áreas de captura se espalham pelos vastos mapas do game, preciso correr ou usar um veículo para chegar até a ação. Por se tratar de um jogo de guerra, é justo o jogador querer que a ação seja desenfreada e ininterrupta, mas isso não acontece no jogo da DICE. Aliás, ao percorrer essas longas distâncias e morrer por um descuido ou uma jogada precisa de um adversário, é preciso correr de novo. 

Mas também é preciso destacar que quando a ação aparece, ela aparece de forma totalmente imersiva e faz jus ao grandioso histórico da franquia Battlefield -quando a ação dá as caras, o game triunfa. Jogadores não tão familiarizados com as trocações de tiros da série podem ter dificuldades em entender o posicionamento adversário ou até mesmo de onde vem tanto chumbo, mas sua curva de aprendizagem é baixa em relação a outros games do gênero – mesmo que a customização dos equipamentos dos personagens seja ampla – e é fácil melhorar o desempenho quanto mais partidas são disputadas. Com comandos básicos e já estabelecidos na própria franquia, jogar Battlefield 2042 não é nada difícil mecanicamente falando, mas enfrentar tantos adversários ao mesmo tempo pode ser uma prática bem irritante – morrer sem saber de onde o tiro fatal veio é, por muitas vezes, chato. Mas isso só evidencia a minha falta de prática inicial em jogar um game de tiro em primeira pessoa, ainda mais com um controle – me sinto mais confortável com o teclado e mouse.

Com o tempo, a diversão e a imersão aumentam, e o jogo caiu nas minhas graças quando me acostumei com a mecânica do controle. Explodir tanques, acertar um headshot ou simplesmente ganhar uma trocação de tiro com adversários e sair vitorioso amplifica a experiência do game, deixando aquele gostinho de “quero mais” – mesmo lembrando que é preciso correr longos caminhos em direção à ação. A chatice, no fim das contas, perde espaço pra diversão e pela sede de vitória.

O game traz uma adição significativa à série, especificamente com elementos que podem prejudicar ou ajudar os jogadores: mudanças climáticas. Seguindo a própria história do jogo, mudanças climáticas acontecem em meio às partidas, o que é divertido à beça. Num cenário desértico, por exemplo, tempestades de areia tomam conta do mapa e diminuem quase todo o campo de visão dos jogadores. Este simples recurso ajuda não só a aumentar a imersão e atenção durante as partidas, mas é um adicional interessante e até belo. Pra ser sincero, torcia para que tempestades de areia aparecessem a cada minuto. Ao combinar comandos simples e fáceis (mesmo nos controles), mudanças climáticas em longos mapas e a trocação de tiro com fuzis, bazucas e granadas faz com que Battlefield 2042 entregue uma experiência de guerra mitigada que depende da ação pra divertir, mas quando esbarro na ação, a experiência é incrível e de tirar o fôlego. O grande trunfo do game é a guerra, que custa a aparecer pelas longas distâncias, mas quando aparece, é um “tiro no peito” de tão divertido.

Battlefield 2042 ainda guarda uma grata surpresa, principalmente aos fãs mais antigos da franquia: o modo Portal. O modo Portal nada mais é do que uma ferramenta de criação que permite que jogadores criem suas próprias experiências tomando base elementos já consagrados da franquia, como equipamentos, regras e mapas de outros games da série, incluindo Battlefield 3. Se o jogador não se contentar com todos as partidas disponíveis nos modos Hazard Zone (sobrevivência) ou All-Out Warfare (Conquista e Ruptura), é possível criar uma experiência própria usando o modo Portal, que traz elementos suficientes para a criação de partidas únicas em Battlefield 2042. 

Gráficos

Outra aposta da DICE é o visual de Battlefield 2042. Neste ponto, o novo game da franquia é um espetáculo gráfico e impressiona não só pelos grandes detalhes, mas pelos pequenos também. De certo, os mapas grandiosos são um show à parte e o game, ao menos no PlayStation 5, usufrui do poder da nova geração dos consoles sem esbarrar em grandes problemas – talvez uma leve queda de frames aqui e o engasgo no carregamento de algumas texturas. No entanto, isso pouco impacta nas partidas, que quando carregadas com muito tiroteio, são uma verdadeira chuva de meteoros balísticos e explosões de cair o queixo sem interferências que podem estragar a experiência de jogos mais pesados. Em Battlefield 2042, o visual dá um gás na imersão, que fez eu me sentir no meio do dito “tiro, porrada e bomba”.

Trilha Sonora

Composta por Hildur Guðnadóttir e Sam Slater, a trilha sonora do game aposta em notas metálicas e desconfortáveis com tons sofridos e agoniantes. Se a ideia é tentar transformar o sofrimento e o terror de uma guerra em música, é possível dizer que Battlefield 2042 conta com trechos musicais dignos de cinema. Raros são os momentos em que a trilha sonora do game abraça os jogadores – ela é feita para incomodar, para gerar um sinal de alerta. E não poderia ser diferente, já que jogadores embarcam em um game de tiro meio a uma guerra. Mas também é justo dizer que, embora sofrida e agoniante, a trila sonora se encaixa perfeitamente na proposta do game.

Também é justo analisar o impacto das referências sonoras usadas em Battlefield 2042. Há muito detalhe visual no jogo, mas também há muito detalhe sonoro. Como exemplos, é preciso enaltecer os detalhes sonoros do atrito dos equipamentos enquanto os personagens correm no jogo, o som das botas militares em contato com a areia e, claro, o som da guerra. Tanques explodem como leões rugindo na savana, balas ricocheteiam como moscas bem próximas aos ouvidos. Os efeitos sonoros são um recurso fundamental para a imersão completa em Battlefield 2042, e funcionam perfeitamente.

Veredito

Battlefield 2042 pode não agradar os fãs de FPS que priorizam um modo campanha ou que não gostam de momentos que quebram a ação, uma vez que o game somente oferece duelos contra outros jogadores pela internet e é preciso sempre correr em direção aos tiroteios para poder, enfim, vivenciar os momentos de guerra do game. Mas isso não diminui a qualidade dos combates, da ação em si, tampouco interfere na qualidade da produção como um todo. O game da DICE diverte na base de uma insistência inicial, é verdade, mas ao acostumar com sua proposta e entender o que o game tem a oferecer, a diversão está presente em praticamente todos os momentos – convenhamos que perder não é tão divertido assim.

O game disponível para as plataformas XBox, PlayStation e PC diverte na medida com comandos simples e já consolidados na franquia, tiroteios frenéticos, explosões, vastos mapas, uma incrível qualidade visual e variados modos de jogo. Battlefield 2042 pode não ser perfeito, mas é grandioso.