Já faz tempo que a Nintendo surpreendeu o mercado com a chegada do Nintendo Switch e era claro que a franquia Mario também possuía planos para surpreender no novo console. O que ninguém imaginava é que a tal surpresa veio no mesmo ano de Super Mario Odyssey e foi uma mistura no mínimo inusitada e inesperada, com Mario + Rabbids: Kingdom Battle.
O jogo de 2017 conseguiu unir dois mundos distintos em todos os sentidos, seguindo uma proposta completamente diferente das plataformas de Mario que já estamos acostumados, a pedido do próprio Miyamoto. O que os gigantes do Japão não esperavam era a receptividade extremamente positiva que o jogo recebeu logo no início da vida do Switch, possibilitando assim uma aguardada e esperada sequência, Mario + Rabbids: Sparks of Hope.
Pousando no Nintendo Switch em 20 de outubro de 2022, Sparks of Hope chega com uma pitada a mais para nós brasileiros, introduzindo legendas em Português Brasileiro na franquia. Com a expectativa de ser maior que o primeiro game e expandir ainda mais a loucura estabelecida entre Ubisoft e Nintendo, se a sequência foi capaz de alcançar tudo isso ou não, você confere agora na nossa análise.
Esta análise foi feita graças a uma cópia digital do jogo, gentilmente fornecida a nós pela Ubisoft.
História
Como se Mario e os Rabbids precisassem de um contexto para fazer sentido, ironicamente temos uma história para justificar tudo que ocorre no game. Em linhas gerais, a turma de Mario e os já apresentados Rabbids Mario, Peach e Luigi estavam aproveitando momentos de paz no Reino do Cogumelo quando uma Luma diferente surge fugindo desesperadamente de algo.
Este algo é a Malumbra, uma espécie de ser das trevas que toma as mais diversas formas e proporções para espalhar a escuridão por onde passa. A tal Luma diferenciada trata-se de uma Spark, uma mistura de Rabbid com os pequenos seres estrelares que conhecemos em Mario Galaxy, com uma amarração mais forte do que apenas contribuir para o enredo, já que elas também apoiam em combate.
Para que a galáxia esteja salva, essa equipe improvável ficará responsável por conter toda a escuridão e impedir os planos de Calamita, combatendo os Caçadores de Sparks e impedindo que a as trevas consumam tudo, evitando que a energia dos Sparks seja roubada e usando elas e seu dinamismo que trazem aos combates ao favor desse time de heróis.
Jogabilidade
Não são nem os gráficos, nem a história ou os cenários que te farão gastar horas e horas jogando Sparks of Hope, mas sim sua jogabilidade. Refinada ao máximo se comparado ao primeiro game, o jogo pisa bem mais no estratégico sem sair do divertido. Os combates envolvem os Sparks, que possuem habilidades específicas que podem ser fraquezas ou resistências dos inimigos que você vai enfrentar. A organização e harmonia dos combates faz com que o jogador analise a horda de inimigos através do “Panorama” para entender com quem está lidando, para aí sim realizar os devidos preparativos para que tenha uma vantagem.
O maior número de personagens somado com a Árvore de Habilidades cria um interessante grupo de combinações possíveis de estratégias, aliadas ao investimento de tempo para jogar desde os menores confrontos, tendo em mente o objetivo de subir de nível. Personagens de longo alcance, que causam dano em área, que cuidam do suporte ou que podem atirar duas vezes: aqui tem um leque enorme de possibilidades para que o jogador defina seu jeito ideal de prosseguir na história.
Falando um pouco sobre os mundos que conectam as batalhas, agora é possível caminhar livremente, não mais apenas em linha reta como o jogo de 2017 introduziu. Agora, o livre andar quase nos faz enxergar e sentir um mundo 3D do Mario feito por outras mãos (eu disse quase, ok?). A diferença, porém, fica num mapa amplo demais, que aparentemente permite muito mas vêm com limitações óbvias de um jogo de estratégia. Dá para entender, afinal, refinar demais essa exploração faria o gênero principal ficar em segundo plano, mas isso não significa que não estejam nítidos os pontos de melhoria para que ficasse mais fluído.
Gráficos
Não é exagero dizer que Sparks of Hope opta por ser um dos jogos mais vivos e coloridos da série Mario, sejam eles spinoffs ou não. A Nintendo trouxe muita vida para os modelos da turma do encanador em Luigi’s Mansion 3 (2019, exclusivo do Switch) com cores em contraste maior e muita expressividade, e fica bem nítido que a Ubisoft fez um bom uso desse avanço para introduzir neste game.
A confiança nesses aspectos é tão óbvia que muitas vezes as cutscenes usam e abusam de zooms nos personagens e nas suas expressões, sempre com muita ênfase nesse investimento específico e apostando sempre em planos coletivos, onde um mesmo frame mostra o grupo todo unido, com a diferença de cores e personalidade saltando os olhos, mesmo entre personagens “repetidos”, como Mario e Rabbid Mario.
As cutscenes são outro ponto altíssimo neste game, que trouxe diversas cinemáticas e momentos de encher os olhos. Até mesmo quem não analisou o game vai tirar diversas capturas de tela, pois muitos momentos valem a pena serem registrados para serem admirados de novo depois.
Trilha Sonora
Entre as mais diversas evidências de que o investimento nessa sequência foi de peso, a trilha sonora é uma prova irrefutável. Estamos falando de um elenco composto por Yoko Shimomura, Gareth Coker e Grant Kirkhope.
Citar o currículo desses três é quase uma viagem aos mais diversos clássicos e jogos de grande importância para a indústria. Quem conhece esses nomes definitivamente se sentiu aliviado e respeitado e quem não os conhece, apenas saiba que seus ouvidos estarão bem cuidados.
Ainda falando sobre respeitar, não apenas a indústria de games foi extremamente bem representada, mas toda a franquia Mario foi preservada e expandida na medida certa. O cuidado com as propriedades intelectuais da Nintendo foi muito claro e muito bem executado, além de ganhar forças do apoio em efeitos sonoros e vozes que já conhecemos, somadas aos carismáticos gráficos que já mencionamos por aqui.
Veredito
Chega a ser estranho dizer que um jogo da linha Mario precisa “se provar” para o consumidor, mas também é muito fácil dizer que Sparks of Hope fez isso com êxito. O conceito de livre movimentação no overworld ainda tem seus refinamentos, mas avançou muito para chegar numa fórmula bem satisfatória. O jogo cria sua própria linha de raciocínio sem deturpar o que já conhecemos, criando uma visão muito consistente de um universo que parecia improvável (em muitas camadas) na teoria. O resumo da ópera é que muito se altera e tudo se preserva.
Os Rabbids e Lumas foram os mais agraciados nisso tudo, saindo de sua camada básica para um patamar único que não invalidará os personagens em outros contextos no futuro. Chegou a um nível onde ver um Rabbid “puro”, sem uma “camada Nintendo”, automaticamente traz uma sensação de um personagem pelado, genérico e sem diferenciais. As Lumas, agora Sparks, acrescentam com atributos em batalha, saindo do pedestal de acompanhantes fofas da Rosalina.
A loucura dos Rabbids é deixada de lado para abraçar uma junção de um enfadonho universo o qual Mario e seus amigos conseguem ajudar com o apoio dos aliados do passado. As cutscenes dão mais força ainda a isso, mostrando interações entre os heróis bem descontraídas, quase como se tudo aquilo tivesse sido sempre o normal e o esperado.
A leveza dessa junção é tão intensa que novos personagens caíram como uma luva e é quase natural esperarmos como próximos passos uma Rabbid Daisy ou Wario e Waluigi nesse caldeirão. O gostinho de quero mais existe e existirá mesmo depois do término da campanha e uma trilogia para toda esta loucura é basicamente inevitável e necessária.