Análises

Análise: Metroid Dread

A franquia Metroid surpreende fãs e novos jogadores há 35 anos e isso é um fato. Tanto é que o gênero Metroidvania carrega o peso da franquia em seu título, que mudou patamares lineares para criar uma exploração genuína e livre, mesmo sendo controlada com barreiras indiretas, que aguardam novas habilidades para que o progresso ocorra.

Em um ano onde muitos aguardavam novidades do projeto mais recente anunciado para o Nintendo Switch, Metroid Prime 4 não teve palco algum e a E3 de 2021 surpreende com a chegada de Metroid 5, ou Metroid Dread, se preferir. O anúncio não marca apenas um retorno 2D de Samus após 4 anos do lançamento de Samus Returns (3DS, 2017) mas traz consigo o peso de ser uma aventura inédita da caçadora de recompensas depois de 19 anos.

Anunciado em junho de 2021 com o lançamento para 8 de outubro do mesmo ano, Metroid Dread é a continuação direta de Metroid Fusion (GBA, 2002) e promete encerrar um arco que se iniciou em 1986 com o primeiro jogo da franquia.

Confira a nossa análise de Metroid Dread, exclusivo para Nintendo Switch. Esta análise foi possibilitada pela própria Nintendo, que nos cedeu uma cópia digital do jogo.

História

Após os eventos de Metroid Fusion, os Metroids são agora uma raça considerada extinta e os Parasita X, forma de vida gelatinosa capaz de copiar características físicas e lembranças de sua presa, pareciam ter sido destruídos junto com a Base da Federação Galática que Samus explode no final de sua última aventura.

Apesar dos relatos, um vídeo anônimo é enviado à Federação, mostrando um Parasita X vivo. Após rastrearem a origem desse envio, entende-se que o parasita está em um planeta chamado ZDR. Se não bastasse o parasita, 7 robôs de alta performance de exploração, os E.M.M.I., foram encaminhados para o planeta para vasculhar o perímetro e os mesmos desapareceram sem deixar rastros.

Por saberem do poder massivo que o parasita possui, visto que ela já fez uma cópia de Samus no passado, a Federação encarrega a ela a tarefa de exterminá-los, tanto por já ter feito isso antes quanto por ser imune a criatura, já que a caçadora de recompensas foi infectada em Metroid 4, sendo salva por uma vacina criada a partir do DNA dos Metroids.

Assim que pousa, Samus dá de cara com uma figura misteriosa, que a deixa desacordada. Ao levantar-se, está com uma armadura aparentemente mais fraca e a já conhecida “amnésia de habilidades”, que faz com que a progressão comece lenta até encontrar todas as melhorias durante a exploração. Nesse clímax de mistério, Samus deverá caçar ou ser caçada, inciando-se assim uma aventura de exploração atrás de respostas sobre os Parasita X, o sumiço dos E.M.M.I. e também sobre seu passado.

Jogabilidade

A movimentação nunca esteve tão moderna e refinada como a que é vista em Dread. Se o que foi feito em Samus Returns foi impressionante, a MercurySteam foi capaz de elevar isso para outro patamar. O Melee Counter, golpe físico feito no intervalo certo de tempo, volta mais dinâmico do que nunca, podendo ser feito parado e agora também em movimento com o Dash Melee. Além de ser mais recompensador utilizá-lo, já que um inimigo é derrotado apenas com um golpe, finalizar com essa técnica também entrega itens melhores.

Falando em novos movimentos, agora a possibilidade de passar por lugares menores sem a Morph Ball é uma realidade graças ao Slide. A técnica consiste em um “carrinho” estrategicamente ocupando o botão gatilho ZL, o que garante muito mais fluidez na movimentação, perfeito para manter o dinamismo na movimentação e aliado necessário na fuga contra os E.M.M.I., que enxergam Samus como uma inimiga a ser derrotada. Tudo que temos de mais tradicional também está aqui, como bombas, mísseis, upgrades de disparo, fora o Spider Magnet e o Grapple.

Para os que já jogaram Samus Returns, a energia Aeion também retorna, junto com o Pulse Radar para auxiliar na procura de itens e passagens escondidas. A mesma energia alimenta novidades como Phantom Cloak, que garante invisibilidade temporária e o Flash Shift, que faz com que sejamos capazes de realizar 3 rápidos movimentos em sequência. Todas essas habilidades são extremamente funcionais no cenário de um vasto planeta, tornando a exploração ainda mais fantástica, com uma jogabilidade competente ao seu lado.

O estilo Metroid, que formulou tantos outros conceitos, não parece ter tido pretensão alguma de se alimentar de ideias de outros jogos que saíram durante o hiato de Fusion para Dread. No começo, isso soou como algo negativo, mas que converte-se ao longo da aventura. A fórmula está na medida perfeita entre o tradicional e o moderno e a jogabilidade imprime o carinho que o projeto, pensado desde 2005 para o DS, carrega consigo.

Trilha Sonora

A série Metroid é vastamente reconhecida por diversas características marcantes, dentre elas uma das mais conhecidas talvez seja a sensação de vazio e solidão. Dread segue a mesma fórmula, com músicas nada alegres, que na verdade miram em te manter atento a todo o custo. É um lado sombrio que a Nintendo explora pouco, por sempre apostar em temas alegres ou heróicos.

Para manter a tensão no ar, não espere em Dread músicas extremamente marcantes. A ideia das trilhas é apenas acompanhar sua exploração, sem incomodar e sim dar mais força para o temor que te persegue, nesse caso, literalmente persegue.

Um ponto de destaque vai para as “E.M.M.I Zones”, os lugares delimitados onde as figuras robóticas realizam sua partulha. A música se transforma completamente e a atenção aos efeitos sonoros é um fator decisivo nesse cenário, pois basta apenas um deslize ou uma má interpretação do comportamento de um E.M.M.I. para te garantir uma tela de Game Over instantânea. Ainda é possível se esquivar de um ataque caso o jogador acerte a janela de tempo, mas ela é tão pequena que acaba sendo mais um fator sorte que habilidade.

Gráficos

Além de todos os marcos importantes que já mencionei sobre Dread, outra vitória deste retorno é a marca de primeiro Metroid em HD. O tão esperado momento mostrou que valeu a pena esperar e mais uma vez mostra a maestria da Nintendo em compressão de arquivos, já que o jogo possui apenas 4.1gb de tamanho total.

Por uma questão puramente de costume, quase 90% da minha experiência com Dread foi no Modo Portátil, e posso afirmar que nada deixa a desejar em nenhuma das propostas, seja dentro ou fora da Dock. Percebi apenas uma queda de frames na animação dos deslocamentos entre áreas, mas entendo que ali é uma tela de loading mais carismática e isso não afetou em nada a fluidez sem falhas que uma aventura Metroid desse tamanho precisa e alcança.

É surpreendente pensar que a Varia Suit, uma das armaduras de Samus, precisou passar por alterações visuais pelas limitações do GameBoy na época, agora possui todo o vislumbre que merece em alta definição.

Veredito

Cada minuto jogando Metroid Dread passa a sensação de jogar um projeto distante que enfim se torna realidade. Muito do que é clássico e já tradicional aparece de maneira refinada, dando espaço para novidades brilharem como se sempre estivessem por ali. O mapa nunca contou com tantas ferramentas de auxílio, mas mesmo assim se perder é algo comum que não frustra, pois se converte em incentivo para avançar sendo mais detalhista. Falando em não se frustrar, perder (diversas vezes) para os E.M.M.I. foi algo que nunca desmotivou e sempre dava mais garra e tensão para tentar escapar na próxima tentativa. A tensão inicial é indescritível e decai com os próximos encontros, por serem muito parecidos. Mas isso não tira desta perseguição o charme de uma mudança de ambiente e adoção de novas estratégias.

Talvez o pecado mais visível em Dread seja a pouca variedade entre as áreas do jogo. Algumas delas são muito semelhantes entre si, e me vi confirmando algumas vezes no mapa em qual lugar estava por suas similaridades. Fusion apostou num conceito de uma estação que explorava diversos biomas, então a diversidade era abundante lá, o que deixou a desejar em Dread. O conceito de planeta inexplorado até contorna isso e existem alguns cenários bem interativos, mas ainda é uma falta a ser mencionada.

A aventura tão esperada de Samus enfim apareceu e não é exagero dizer que valeu a pena aguardar . A narrativa, para os fãs mais assíduos, existe e é extremamente esclarecedora para quem esperava desfechos nessa quinta aventura de uma história que se iniciou nos anos 80. Para os fãs mais recentes de Metroidvania que realmente se preocupam apenas com a exploração não linear, serão muito bem recebidos por horas de jogatina do melhor jogo da franquia até então.