Análises

Análise: Spiritfarer

Não é de hoje que os jogos são considerados uma arte, assim como a música e a dança, por exemplo. Cada vez mais os jogos tornam-se passíveis a isso, com histórias inspiradoras, reflexões profundas e mensagens muito bonitas escondidas ou explícitas em cada detalhe da essência do jogo.

Spiritfarer, da Thunder Lotus Games é um jogo indie que traz consigo muito do que é visto e admirado na arte e esta análise falará exatamente de como foi ter essa experiência no Nintendo Switch.

A análise só foi possível graças a chave que nos foi fornecida!

História

O jogo começa com Stella e seu gato Daffodil desacordados em um barco. Ao acordarem, são recebidos por Charon, que se apresenta como barqueiro no submundo, ou seja, o Caronte da mitologia grega em que o jogo é baseado. Em resumo, a função dele é guiar os espíritos recém chegados nas águas que dividem o mundo dos vivos e dos mortos para o seu caminho, os ajudando a entender mais sobre si mesmos para que eles possam deixar de ser errantes e seguir adiante sem demais dúvidas, ou pelo menos essa era a função de Charon.

Após se apresentar, é entendido que Stella ficará com esse cargo daqui para frente, e ela é então presenteada com a Everlight, uma esfera que basicamente a valida como nova barqueira e a permite cumprir sua missão em ajudar os demais a realizar a travessia, assim simbolizando a passagem entre a vida e a morte.

Parece um pouco frio explicando assim, mas o jogo foca em deixar essa história bem leve e simbólica. Enquanto Stella fica encarregada de encontrar diversas personalidades que caminham em busca de entender seu propósito, nós também entendemos mais sobre o novo cargo e sobre a personagem em si, para que todos possam de fato parar de vagar sem rumo, incluindo o jogador.

Gráficos

A parte artística é simplesmente maravilhosa. Eu iniciei o jogo sem consumir nada a respeito dele, justamente para ser impactado apenas pelo o que jogaria. O jogo começa com um close em Stella e seu gato, que estão completamente traçados à mão, em um estilo de desenho muito leve, com cores muito bonitas. Quando a câmera se afasta e tudo isso se mantém, junto de vários outros lindos aspectos no cenário, suspirei de alívio e alegria por não ser uma cutscene e sim o molde do jogo.

A ideia de contar uma história tão poderosa com gráficos e feições tão leves combinou muito bem, já que a proposta é justamente lidar com a morte de outra ótica que não seja através de combates e eliminações em massa. O jogo ainda tem diversos efeitos de luz (por conta da Everlight) e com a metáfora das almas serem representadas por animais com as mais diversas características, o que deu espaço para que o jogo mostrasse ainda mais suas raízes criativas com visuais sempre muito interessantes.

Jogabilidade

A jogabilidade é no geral muito bem feita, com comandos simples. Spiritfarer foca em grande parte de sua jogabilidade no gerenciamento do barco e nas viagens para coletar passageiros, ao mesmo tempo que nos mostra o quão necessário são estas funções. Para que a história se amarre no que quer contar (a mitologia grega e ressignificar a morte), o barco precisa mesmo ter o papel que tem no jogo. As pequenas missões de gerenciamento arriscam atingir simultaneamente um público que pode já ser apaixonado (como fãs de Stardew Valley, por exemplo) e um público que apenas desconhece o gênero.

Aprimorar o barco, incluir instalações e o simples fato de viajar por ilhas ao redor do mapa são as pequenas e constantes missões que podem ficar um pouco maçantes. Já os diálogos, são longos e sem a possibilidade de acelerar as conversas, podendo incomodar os mais apressados que contavam com essa funcionalidade.

Apesar de estas serem as partes que mais “exigem paciência”, na minha opinião são também são os melhores momentos para você relaxar e conhecer os personagens, que literalmente fazem “a viagem valer”. Os viajantes, suas jornadas individuais e o que cada um tem a dizer são o grande ouro do jogo, já que a Thunder Lotus fez questão de recheá-los de personalidade e conteúdo, o que faz você entrar no “modo ouvinte” constantemente, para entender tudo que eles viveram até aquele momento. Inclusive trazendo mais contexto sobre a própria Stella, que é desenvolvida a todo o momento apenas através deles.

Veredito

O jogo e sua mensagem são extremamente bem colocados e tocantes, entrando no hall de universos completos que serão amados e alimentados pelos fãs por anos, como foi em Undertale e Hollow Knight. A Stella não possui uma linha de diálogo sequer (similar a Mario e Link) mas o universo em volta dela é tão rico em detalhes que isso é contornado com bastante facilidade.

Spiritfarer consegue emocionar e explica de maneira sutil os conceitos de morte e fragilidade que a vida carrega, sendo profundo para quem entendeu tudo e divertido para quem quer apenas… encontrar um caminho.