Em suas entrevistas mais recentes, Shigeru Miyamoto sempre ressalta que sua principal preocupação ao produzir novos games para a Nintendo está em trazer uma jogabilidade inédita e inovadora. Inclusive, seria essa sua justificativa para que novos jogos de franquias consagradas da Big N não recebessem novas versões, como F-Zero ou mesmo Star Fox, que apenas no final de 2014 foi confirmada sua produção e lançamento para 2015.
Por um lado, é louvável ver a postura quase intacta de Miyamoto quanto a explorar novas possibilidades, algo que o mercado anda precisando com uma certa urgência. Por outro, fãs da Nintendo (e da concorrência se pararmos pra pensar um pouco) acabam enxergando uma falta de uma boa biblioteca, ou ver as mesmas franquias em destaque (Nintendo só faz jogo do Mario e Zelda… E Skyward Sword foi lançado em 2011), o que não contribui principalmente com as vendas de console. O Wii U está para mostrar isso, mesmo com uma galeria de exclusivos de respeito em comparação com os demais consoles da nova geração.
Pensando nesses dois pontos, o que é preciso realmente para vermos jogos inovadores numa frequência maior? Será que isso ainda é possível?
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Esse é um fato infelizmente consumado: games AAA são muito mais caros de se produzir hoje em dia do que há 15 ou 20 anos atrás. Recursos como captura de movimentos, dublagem, desenvolvimento de motores gráficos de última geração, programação de IA, e jogabilidade são indispensáveis para um game de peso atualmente. Isso sem contarmos fatores como campanha de marketing e localização dos jogos.
Show me the Money |
Por conta do alto investimento, as produtoras e desenvolvedoras de jogos procuram trazer exatamente o que os jogadores querem, com um pouco “a mais”. Sem entrarmos em questões como DLCs, que em breve comentarei por aqui no Papo de Gamer, as produtoras precisam garantir que aquele jogo tenha muitas vendas, apostando em mecânicas, e marcas, já conhecidas dos jogadores.
O problema é quando ele realmente não corresponde a essa expectativa. Watch Dogs, lançado para Wii U com alguns meses de atraso em relação aos outros consoles, está aí como prova. O que corrobora na questão da falta de novidades reais no mercado. Algo similar tem acontecido na indústria do cinema.
O jogo é legal, mas não é “isso tudo”. |
Contudo, nos dois ramos, vemos uma postura parecida por parte dos seus consumidores: muitos não querem algo “novo”, mas sim a mesma experiência vivida antes com gráficos em alta resolução ou com correções naquilo que consideraram ruim na primeira versão. Não é a toa que vemos franquias com games anuais que trazem pouca inovação justamente para atender as destes consumidores exigentes, quase ditatoriais.
Grandes orçamentos trazem enormes possibilidades, mas ao mesmo tempo limitam as opções dos game designers pela necessidade, quase desesperadora, de se fazer um game “vendável”, o que quer que isso signifique. Mas isso significa que a inovação está morta? Claro que não, como veremos a seguir.
Explorando o Inexplorável
Quando ouvimos Miyamoto falar que o cinema não tem nada a ensinar para os games, ou mesmo sua ânsia por inovação, e vemos o que outras empresas estão fazendo, acaba fazendo um pouco de sentido, embora eu não concorde que outras mídias não possam ensinar nada aos games, e vice-versa. Mas o próprio mercado de games tem campos ainda não explorados com a tecnologia que ela mesma desenvolveu.
E nisto, falo diretamente do Wii U. Vamos pensar um pouco: dos grandes lançamentos da Big N na nova geração, quantos jogos realmente exploraram o GamePad como se deveria? Eu consigo contar nos dedos, e torço de verdade para que a declaração de Miyamoto seja verdadeira quando os medalhões do ano forem lançados.
Nesse aspecto de inovação, o mercado Indie se destaca justamente por não ter essas amarras quanto a necessidade de vender muito por conta do alto investimento. Um exemplo que vi foi recentemente em uma palestra sobre Planejamento de Games, utilizando o indie brasileiro Unnamed Fiasco. Vejam e me digam porque algo como o que foi sugerido ali não poderia ser financeiramente viável no Mainstream.
A reinvenção da jogabilidade está justamente na exploração dos recursos que as plataformas oferecem. Voltando ao GamePad, poucos sabem que ele possui um microfone para conversas. O que impede uma desenvolvedora, ou a própria Nintendo, explorar esse recurso? Seria muito divertido, por exemplo, ver um jogo de Terror em que os gritos do jogador (capturados pelo microfone) afetassem o gameplay.
Não nos decepcione hein |
E agora a Nintendo possui justamente essa possibilidade de novas invenções na jogabilidade com sua recente inclusão no mercado de smartphones e a misteriosa plataforma NX. Se aproveitarem como se deve, é possível sim termos uma nova aurora da tão sonhada inovação que tem se perdido no mercado de games.