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Análise: Cult Of The Lamb

Já faz algum tempo que os jogadores definiram seus gêneros favoritos com base em ótimos universos que foram estabelecidos no mundo dos jogos. É fácil amar um RPG se os personagens forem cativantes ou uma visual novel caso a história seja imersiva o suficiente. 

Existem alguns casos onde essa admiração pode ser multiplicada ou misturada, e esse é o caso para você que jogar Cult Of The Lamb, lançado no último dia 11 de agosto para Nintendo Switch, já que sua proposta mescla gêneros de uma maneira não profunda, porém bem satisfatória.

Gerenciar seu próprio culto mostra como a organização e o trabalho em equipe desafiam o jogador a ser um bom líder multitarefa, ao te colocar na pele de um Cordeiro (literalmente, dessa vez) que precisa desenvolver seu próprio exército de devoção e dedicação através das mais diversas atividades.

Confira nossa análise de Cult Of The Lamb, gentilmente fornecido para nós pela Devolver Digital.

O fim é o começo 

Cult Of The Lamb já inicia em uma situação delicada. O Cordeirinho, que carrega seu nome no título, não consegue exercer outra ação que não seja andar calmamente para sua execução, um sacrifício que promete o fim de uma antiga profecia, isso de acordo com os 4 Bispos que conduzem a cerimônia. No momento em que a vida do pobrezinho deveria se encerrar, um novo começo é apresentado ao pequeno animal, ao encontrar uma entidade apresentada como Aquele Que Espera, a figura que o ritual pretendia derrotar.

A criatura oferece um trato para o recém sacrificado de voltar à vida possuído pela Coroa Vermelha, para achar e confrontar os Bispos que queriam seu fim através do sacrifício, começando um culto em seu nome. Sem opções para negar a proposta, o pequeno Cordeiro retorna com a tarefa de influenciar seguidores para o seu mais novo culto e combater a seita que já existe, através do resgate e conversão dos seguidores.

A partir daqui o jogador passa a representar a entidade que o permitiu recomeçar no mundo dos vivos. No melhor estilo roguelite, pequenas salas ocupadas por inimigos vão te permitir prosseguir e coletar recompensas. O gênero é apenas arranhado em sua superfície, pois todo o carinho e mais de 90% do seu tempo no game são dedicados à temática de gerenciamento, que é elevada a níveis diabólicos com a organização de atribuições para seus seguidores.

Bater, esquivar e… organizar

Apesar de violentamente nos introduzir ao gênero roguelite após a sequência do início, saiba que Cult Of The Lamb vai muito, mas muito além disso. O combate é simples na medida certa, já que o jogador é capaz apenas de bater e esquivar. Apesar de introduzir algumas armas diferentes, pouco muda o aspecto do combate.

Em todos os mapas, há cartas de Tarot que irão conceder ao personagem algum atributo para aquela run. Desde inflingir mais dano até poder ter mais pontos de vida ou causar diversos efeitos nos inimigos, existirão cartas preferidas, mas elas sempre serão distintas.

As runs são agressivas e de curto período, não indo muito além dos 10 minutos, em média. Ao voltar, o possesso Cordeiro tem um enorme espaço para chamar de seu e poder pensar nos mínimos detalhes a posição de tudo.

O espaço trata-se de um imenso campo aberto, palco para que se construa literalmente o seu império. Nesse espaço, o jogador deve incansavelmente organizar tudo, desde a devoção de seus seguidores até suas tarefas diárias e funções para o bem do Culto. Manter os seguidores fiéis e produzindo parece simples, mas envolve uma imensa gama de variáveis, como comportamento, idade, temperamento e aspectos menores como refeições, higiene e ações diárias.

Diabolicamente fofinho

É quase contraditório falar que o jogo é fofo e macabro ao mesmo tempo, mas acredite quando eu falo que é exatamente isso. O design simples e cartunista cria personagens com muito carisma, expressões e até personalidade, mas a temática cultista consegue possuir todo o ambiente quando necessário (desculpem o trocadilho).

Ao incluir um seguidor no culto, o jogador têm acesso a uma ferramenta de edição, que traz ainda mais diversidade e escolhas, desde aparência até mesmo o nome. Todos os personagens funcionam muito bem nos cenários e suas cores sempre os destacam, ficando fácil achá-los sempre. A movimentação foca em sprites 2D num ambiente aberto que funciona muito bem.

Outro ponto positivo da escolha acertada do visual são as expressões fáceis de serem lidas e interpretadas, mesmo sem o diálogo direto. Muito do gerenciamento parte de como os personagens estão se sentindo, o que estão pensando e como podem reagir a eventos externos, então, quanto melhor for a carinha do seu seguidor, menos problemas ele vai gerar e melhor andará a engrenagem.

Tocando os instrumentos certos para seguir tocando tudo

O desafio em misturar dois gêneros tem seus desdobramentos e um deles com certeza é o musical. Como é possível ter tons agressivos quando se está em combate e músicas relaxantes enquanto o gerenciamento acontece? Bom, aqui essa mistura aconteceu e ela está excelente.

Começamos por Praise the Lamb, que tem um tom de engenhoca e de raciocínio, ideal para os momentos de construção e atribuição, para a energética Midas, que nos faz sentir no ápice de um combate envolvente. Todas elas, apesar de distintas, andam em sintonia pois sempre parecem pertencer ao mesmo universo.

Veredito

Pela vantagem de termos ótimos gêneros e franquias que os representem, os jogadores acabam sendo vítimas da desvantagem de muitos estúdios apostarem em fórmulas que já são vencedoras. Como gênero “fazendinha” praticamente cercando a proposta de jogos de gerenciamento, Cult Of The Lamb trás um ar de novo e nos lembra como pode ser produtivo arriscar e tentar o novo, mesmo quando a mescla soe o mais improvável possível.

O gerenciamento do culto e de todos os recursos, somados ao carismático perfil fofo/satanista já poderiam por si só envolver muitas pessoas fãs do gênero e curiosos, mas o game vai além e ainda aposta em incluir o roguelite que está simples e funcional na medida certa, sem incluir um fator de complexidade e adicionando muito ao jogo e a proposta de ser um Cordeirinho violento.

Cult Of The Lamb é um jogo que vai te atrair pela curiosidade e te manter por horas e mais horas com o sistema envolvente que o cerca. Tudo é pensado em manter o jogador ativo, decidindo o tempo todo enquanto é preciso exercer influência. É um prato cheio para os fãs de jogos de gerenciamento de recursos e também é uma ótima alternativa para os novatos que nunca foram chegados em temáticas como cidades ou fazendas.

O jogo está disponível em PT-BR, mas a versão de Switch ainda não conta com o nosso idioma.