Mighty No. 9. Shovel Knight. Yooka-Laylee. Chroma Squad. E agora Bloodstained. Esses são apenas alguns exemplos de games que ganharam ou estão ganhando vida através dos esforços de seus criadores e o financiamento dos fãs em plataformas de crowdfunding, em especial o Kickstarter. Esses casos mostram uma tendência curiosa, de um lado do mercado de games que as grandes produtoras estão esquecendo.
Como não gostar desse tipo de mimo? |
Já falamos algumas vezes aqui no Papo de Gamer sobre determinados aspectos que circundam os games mainstream atualmente, como a dificuldade, jogabilidade, multiplayer, entre diversos outros. Até mesmo cogitamos não estarmos entre o saudosismo ou a nostalgia ao falarmos dos games clássicos dos anos 80, 90 e 2000. E olha que curioso: boa parte dos projetos citados no começo vão justamente no que uma parcela expressiva dos jogadores querem.
Ok. Mas o que eles querem afinal?
“De Volta Às Origens”
Sim, estou aproveitando o Hype. |
Não sei quanto a vocês, mas eu tenho ficado um pouco exausto com papos sobre “nostalgia”, “volta às origens” e coisas similares sem haver algo que realmente se projete a esses sentimentos. Em outras mídias temos acompanhado isso com certa frequência, como a volta de diversas franquias cinematográficas e animações dos anos 80 e 90. Se por um lado a minha “criança interior” se anima com tais retornos, por outro há um certo receio de que as coisas não mudem de fato.
Voltando aos games, temos experimentado algo do gênero apenas com as infames remasterizações de jogos da geração passada para as novas plataformas, que tem revoltado muita gente por aí já que novos – e inovadores – games estão mais arriscados de se fazer. E exceto pela versão em HD de The Legend of Zelda: The Wind Waker, a Nintendo tem escapado dessa, ao custo de ainda trazer poucas novas franquias (sim, eu sei que Splatoon e Xenoblade Chronicles X estão chegando. Também estou empolgado, mas esperemos os games serem lançados, certo?).
Diante de pouca originalidade, não é sem motivo que os projetos citados acima fizeram, ou estão fazendo um sucesso tão expressivo no Kickstarter. Eles trazem elementos novos, mas sem esquecer as raízes nas quais eles se inspiraram.
Figuras em quem podemos confiar
Outro fator que tem contribuído para o sucesso desses games são seus desenvolvedores. Com exceção de Shovel Knight, que foi o primeiro projeto da indie Yacht Games e sua carismática campanha no Kickstarter, todos os outros projetos tinham respaldo na experiência dos responsáveis, o que por si só já é uma garantia de confiança por parte dos fãs.
Sujeito carismático esse Inafune. |
Completa-se a isso o fato dos desenvolvedores procurarem o envolvimento de sua base de fãs na produção de tais jogos. Embora eu não tenha contribuído financeiramente para a campanha de Mighty No. 9 em 2013 (Sou um mão de vaca convicto. Enquanto puder economizar, eu farei), acompanhei de perto toda a participação de Keiji Inafune com a comunidade que se formava por ali, carinhosamente chamados de “Beckers” (um trocadilho do personagem título, chamado Beck, com os Backers do Kickstarter). Da concepção do personagem até a escolha de cores, todos os apoiadores ajudaram no processo, e o resultado dessa empreitada só será descoberto em Setembro, mas a experiência já pode ser bem vista.
Chroma Squad já tinha o reconhecimento nacional com sua iniciativa bem sucedida em Knights of Pen & Paper, e sabendo do apreço do público pelo gênero Tokusatsu no Brasil, não se acanhou em nada ao deixar seus apoiadores colocarem o humor e a nostalgia nos detalhes do título.
Ainda quero fazer meu esquadrão nesse jogo! |
E o mesmo tenho visto nas campanhas de Yooka-Laylee e Bloodstained. Seus responsáveis querem fazer o que as grandes desenvolvedoras limitaram ou mesmo negligenciaram, e seguem com campanhas que entregam justamente o que os fãs querem, justificando os tempos recordes de arrecadação no Kickstarter. Ouvindo seus públicos, tais projetos podem ir muito longe.
Porém…
O Outro Lado da Moeda…
Da mesma forma que Game Designers e produtoras iniciantes cativam o público com seus projetos originais ou que remetam a clássicos, outras falham de maneira amarga em seus projetos ambiciosos. E apesar disso não ser lá um “problema” – já que os profissionais também estão passíveis a erros -, o grande entrave se dá quando tais projetos são financiados, porém sequer veem a luz do dia.
Dois exemplos recentes incluem The Stomping Land, MMO online ambientado numa terra pre-histórica, que tinha como destaque um dos desenvolvedores responsáveis por Skyrim. Apesar do financiamento, deixou de ser atualizado na plataforma Steam em sua fase Alpha e não tem uma data de lançamento; e Areal, “suposto” shooter em primeira pessoa que foi cancelado pelo próprio Kickstarter devido a fraude dos desenvolvedores, que adulteraram imagens e vídeos conceituais de outros artistas e desenvolvedores.
O grande problemas nos casos citados acima – e diversos outros que acabam passando despercebidos pela mídia especializada – é a quebra de confiança por parte dos financiadores. Por um lado, existem projetos que atendem todos os anseios dos jogadores mais carentes, e desenvolvedores tão interessados em trazer esses projetos a tona. Por outro, existem oportunistas que se aproveitam dessas mesmas necessidades do público, que acabam dificultando ainda mais a vida de quem realmente quer fazer a diferença no mercado.
Independente dos perigos e decepções, que adivinhem só, também existem nas grandes empresas de games (incluindo a Nintendo), nós jogadores devemos ter um olho muito mais crítico do que ilusório a respeito daquilo que desejamos tanto. Somente dessa forma sairemos de potenciais armadilhas, e ao mesmo tempo ganharemos os games que realmente merecemos.